08/02/2008

O céu não nos diz quando vai chegar a Primavera. Não envia bilhete-postal de flor abrindo, ou folhinha rompendo capa de tronco seco. Mas descobre-se em azul, azul, e fala ao vento para soprar mais manso, para voar mais quente.

E nós sentimos.

O céu também não fala sobre o Inverno que apresta um frio devastador de geada ou granizo ou tempestades de vento. Mas manda o sol passar mais baixo, deixa manchar-se de nuvens brancas que tinge escuras e fartas, crescendo em rolos, e faz troar e abrir as comportas.

E nós compreendemos.

Quando a terra vai tremer ou no mar se abrir uma fenda, o céu sopra os ouvidos dos seres que lhe escutam a alma para logo partirem a salvo da onda gigante que vem galgar os campos e as casas.

Só o Homem não escuta, afogado em desassossego.

O Homem esqueceu os cheiros e os sons da terra, o afago do vento, apagou o brilho das estrelas. É hora de abafar o ruído, chegou o tempo de fechar os olhos e ouvir a música do mar, desnudar-se e cobrir-se de sol, fechar os olhos e ouvir o que não tem som, mergulhar nas águas, fincar os dedos na areia grossa e agarrar os sonhos.

Com as duas mãos.


8 comentários:

Anônimo disse...

Eu não sinto quando a primavera chega. Hauhauhauhau. Mas entendi o que você quis dizer. Foi muito poetico.

http://o-banheiro.blogspot.com/

Paulo Roberto on 08 fevereiro, 2008 11:04 disse...

Teus textos melhoram a cada post...
E a cada post fico mais fã do escritor de ograpiuna, quero ver as fotos!

Adorei essa parte:
É hora de abafar o ruído, chegou o tempo de fechar os olhos e ouvir a música do mar, desnudar-se e cobrir-se de sol, fechar os olhos e ouvir o que não tem som, mergulhar nas águas, fincar os dedos na areia grossa e agarrar os sonhos.

Um abraço!

Rafael Almeida Teixeira on 08 fevereiro, 2008 12:05 disse...

Paulo, esse maravilhoso texto não é meu. Oxalá que fosse.

PS: Observe e verá os créditos à Jawaa uma admirável amiga blogueira.

Paula Barros on 08 fevereiro, 2008 17:17 disse...

Muito lindo o texto.

Murilo on 08 fevereiro, 2008 18:18 disse...

puxa cara... esse texto foi maravilhoso!
Me fez até lembrar de uma teoria filosófica sobre o momento em que o homem passou a ser considerado um elemento fora da natureza, acima dela. O que é algo terrível por sinal!

Abração!

Anônimo disse...

Tdo ki tenho a dizer é ki...

sou fã dos teus textos...

sempre melhores a cada diiia...

beijOO

jawaa on 09 fevereiro, 2008 08:11 disse...

Que linda fotografia e que bela cachoeira!
Obrigada por assim ilustrar meu texto, valorizando-o.
Um abraço

Renato Fernandes on 10 fevereiro, 2008 13:16 disse...

Com esse lance de aquecimento global está cada verz mais difícil sentir a terra o que sinto é apenas é o seu pedido de socorro. e ajuda,
gostei d Post.
muito bom, me remete a infância, na casa de meu tio no sítio

 

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