A vida é um circo.Mas do lado de cá, um palco; do outro lado, um matadouro. No matadouro, as pessoas sérias representam. No palco, só tem palhaço. Os sérios são "responsáveis", e formam um rebanho: mansos que caminham tristemente em direção a nada. E riem dos palhaços. Estes, por sua vez, são inconseqüentes, e riem da seriedade. Mas com uma diferença fundamental: além de rir dos sérios, os palhaços riem de si mesmos — e este é o ponto. Quem consegue rir de si, se salva. Quem só ri do outro, se perde, em todos os sentidos. Nos palcos e nos matadouros da vida, todos representam: os sérios e os palhaços; mas só os palhaços têm consciência disso.
Todos nascemos para a Arte, para o inocente jogo da Vida, para o lúdico, para o puro e o sorridente. Alguns permanecem no palco — e se transformam em artistas, atores, cantores, poetas, bailarinos, amantes, loucos: todos palhaços. Outros, convencidos à força pelos pais, pelos padres, pelos pastores, pelos professores, pelos patrões e, quando não, pela polícia — ficam sérios, perdem o brilho. E logo são encaminhados ao matadouro. Alguns, entretanto, retornam ao palco, depois de perceber que foram iludidos na origem: não lhes agradam os grilhões da seriedade: suas almas de palhaço ainda estavam intactas, por sorte.
Porque assim que você sai do ovo, algemas claras prateadas lhe são postas nos braços. Grilhões de seriedade nas canelas. Se você não reagir a tempo, teremos um deus enclausurado. Um pequeno deus encarcerado.
E eu fico pensando.
Qual será o perverso mecanismo que transforma esse Jesus num chefe de escritório? Que maldição faz da musa uma dona de casa? Quais são os fatores horrorosos que acabam levando um pequeno Buda em direção ao matadouro? O que é que, na maioria das vezes, arrasta um ser iluminado, e o joga no rodamoinho da desgraça cotidiana — e lhe apaga a luz?
Edson Marques
PS: Texto majestoso do amigo poeta. Eu na foto.
11 comentários:
Caso não leu, não comente!
Talvez as conseqüências, cotidiana, das interpretações desses espetáculos no picadeiro da vida.
Muitíssimo desse texto eu gostei.
Concerteza o modo como vivemos, queremos ter o mesmo padrão de vida dos nossos pais, até melhor, para isso, devemos seguir um padrão durante a vida: estudar muito, para ter um bom emprego, nesse bom emprego, trabalhar muito para ter conquistas, mas muitas pessoas nessa 'rotina' acaba esquecendo das coisas simples da vida, de caminhar a praia, de viajar e sentir o vento no rosto, de estar com os amigos para conversar besteiras, estou ficando adulta, com grandes responsabilidades, mas espero nunca esquecer das coisas simples e incríveis da vida, de ter sempre na minha essencia um pouquinho de 'palhaço'.
Nossa eu acho que eu sou o bobo da corte de minha mãe.
Agora entendi por que vc se revoltou.
Um belo texto como esse merece leitura e releitura.
Barroco até a medula. Cheio de jogos verbais e, acima de tudo, com uma visão crítica notável: que humano consegue fugir desse destino triste que vc apontou?
Gostei de ler, camarada.
Relaxe.
Abraço.
Gostei bastante do texto!
É altamente bem escrito e um português que salta à vista, o que torna a leitura imensamente prazerosa!
A foto então, também está perfeita!
Iluminação ótima e expressividade total!
Rafael,
Obrigado pelo apoio!
O texto serve apenas de moldura à tua foto...
Abraços, flores, estrelas.
Poxa cara, seu blog é fantastico! Pelo que vi em seu blog, percebi que pensamos da mesma forma, seus textos são bastantemente contundentes e coesos,admiro essas caracteristicas.
Um abraço
Seu amigo tem futuro. E esse texto me fez pensar muito no meu penúltimo post. Não tem muita coisa a ver, mas ainda assim eu vejo um paralelo. E, se você gostou do texto do seu amigo, com certeza gostará de Jostein Gaarder, já leu? É muito bom.
"E só são importantes as coisas que ocorrem depois do horário de fechamento"
E a foto ficou incrivelmente (I)rada! Parabéns, fui.
nossa cara!!
curti pra caramba esse
realmente, as vezes me pergunto tambem
o que faz as pessoas se desviarem dos seus sonhos.
Mas a gente sabe o que faz: o dinheiro.
é o verdadeiro motivo
vivendo no "palco", não temos a certeza de que teremos uma vida de luxúria, muita grana e sem dificuldades, desde pequeno nossos pais colocam na nossa cabeça para ser um engenheiro, um advogado ou algo do tipo. E esquecemos de fazer o que realmente amamos, esquecemos o que no fundo realmente queremos e aih sim, a luz se apaga.
"Quem consegue rir de si, se salva. Quem só ri do outro, se perde, em todos os sentidos."
A frase do texto pra mim.
Bjs.!
http://apenas-nana.blogspot.com/
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